O mercado financeiro brasileiro projeta uma possível queda nas taxas de juros apenas em 2026, mas essa expectativa pode ser alterada por fatores como gastos fiscais em ano eleitoral e a inflação. Essa análise foi apresentada por Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, durante o evento Global Voices, promovido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) em São Paulo, na terça-feira, 14 de novembro de 2023.
Ferreira destacou que o Brasil enfrenta uma “onda” de otimismo que elevou os preços dos ativos, mesmo diante de preocupações com as contas públicas. Ele alertou que se os gastos fiscais limitarem a capacidade do Banco Central (BC) de reduzir os juros, a situação poderá se tornar desfavorável, uma vez que o mercado está aguardando cortes nas taxas. Atualmente, a XP projeta que as taxas de juros possam chegar a 12% ao final de 2026. Caso essa expectativa não se concretize, Ferreira considera que isso representará um desafio para os investidores.
Além das questões internas, Ferreira também mencionou o risco de que o Federal Reserve (FED) dos Estados Unidos não consiga reduzir suas taxas de juros, o que repercutiria negativamente na economia brasileira.
Reinaldo Le Grazie, sócio da Panamby Capital e ex-diretor de política monetária do BC, também se pronunciou no evento, descrevendo 2026 como um “pesadelo” para a instituição. Segundo ele, a inflação neste ano está em queda, influenciada por fatores externos, como a desvalorização do dólar, que, por sua vez, é impactada por políticas comerciais da administração Trump. Le Grazie advertiu que, caso a economia americana não desacelere, o dólar pode não se desvalorizar como esperado.
Gabriel Barros, economista-chefe da ARX Investimentos, compartilhou sua perspectiva sobre as consequências da eleição de 2026, considerando-a um “legado horrível” para o Brasil. Ele destacou que a estratégia do governo de priorizar o aumento da receita para equilibrar as contas públicas provoca uma “fadiga no processo político”. Barros sugere que a abordagem deveria começar com cortes de gastos, antes de solicitar a contribuição do setor produtivo mediante a retirada de benefícios fiscais.
Ele defendeu que uma ação estruturada voltada para a redução dos gastos geraria resultados concretos, permitindo posteriormente um diálogo com o setor produtivo sobre a adequada tributação.