A inflação dos alimentos emerge como o indicador mais delicado influenciando a aprovação política no Brasil, segundo Felipe Nunes, sócio-fundador da Quaest Pesquisa e Consultoria. Durante o painel “Perspectivas para a Eleição de 2026”, realizado no evento Macro Vision 2025 do Itaú BBA, Nunes sugeriu uma reformulação da famosa frase “É a economia, estúpido”, ressaltando que, atualmente, a expressão correta seria “É o supermercado, estúpido”.
“A inflação de alimentos é, para mim, o índice mais sensível para compreendermos a evolução da aprovação”, afirmou Nunes. O evento ocorreu na última segunda-feira, 29 de outubro de 2023, reunindo outros especialistas, incluindo Marcelo Souza, do Instituto MDA Pesquisa, e Cila Schulman, do IDEIA Instituto de Pesquisa, que moderou o debate.
O papel das bandeiras econômicas na eleição
Nesse contexto, as bandeiras econômicas deverão ser fundamentais para a campanha eleitoral do atual governo. Aspectos como o aumento do salário mínimo, a elevação da massa salarial e a redução das taxas de desemprego deverão ser utilizados como pilares da argumentação política. Marcelo Souza indicou que “o bolso do eleitor é que fala mais alto” quando chega a hora de decidir o voto.
Desafios da complexidade econômica
Entretanto, a complexidade do cenário econômico no Brasil vai além dos índices tradicionais. Felipe Nunes observa uma mudança nesse panorama, onde novos temas emergem na discussão, embora a inflação de alimentos continue sendo um indicador primordial. Souza complementa que a lista de preocupações do eleitor é mais abrangente, o que indica que um desempenho econômico positivo, isoladamente, pode não assegurar a reeleição.
Mesmo diante da centralidade econômica, a polarização política e a “calcificação” do eleitorado representam fatores cruciais. Nunes enfatiza que, mesmo que as condições econômicas se melhorem, eleitores fiéis a uma linha política podem resistir em transferir seu apoio a candidatos adversários, mesmo quando estes apresentam um desempenho econômico favorável.
Ele ilustra essa lealdade política como comparável a torcidas organizadas, sugerindo que a identidade política pode sobrepor descontentamentos econômicos. “O lulismo é maior que a esquerda e o bolsonarismo é menor que a direita”, explica Nunes, referindo-se à complexidade das alianças eleitorais e destacando que apenas cerca de 10% do eleitorado se mostra realmente em disputa.