A MBRF (MBRF3), a nova gigante do setor alimentício brasileiro resultante da fusão entre Marfrig e a BRF, proprietária das marcas Sadia e Perdigão, começa sua trajetória enfrentando desafios significativos. A empresa se manterá dependente do setor de carne de frango nos próximos anos, uma dependência que pode se estender até 2029.
A crise no mercado de carnes bovinas nos Estados Unidos, que apresenta o menor rebanho em 50 anos, impacta diretamente a lucratividade da MBRF, liderada por Marcos Molina. Assim, a empresa poderá sofrer oscilações em sua rentabilidade devido ao ciclo do frango, setor herdado da BRF.
Nos últimos 30 meses, as margens de lucro da carne de frango se mostraram excepcionalmente altas em todo o mundo, impulsionadas por questões genéticas que restringiram a produção de aves e pelo custeio elevado dos grãos para ração animal. No Brasil, empresas como Seara e BRF atingiram suas máximas margens históricas. Um padrão semelhante foi observado nos Estados Unidos, com a Pilgrim’s Pride, controlada pela JBS, e Tyson Foods apresentando resultados robustos.
Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, indicou em uma entrevista ao The AgriBiz que a fase positiva para o mercado de frango deve persistir por mais tempo, embora as exceções às altas margens de lucro anteriores sejam esperadas. Um relatório elaborado por analistas da XP Investimentos prevê uma acomodação nas margens da BRF ao longo dos próximos anos.
Após registrar uma margem Ebitda ajustada de 17,1% no último ano, as expectativas para 2023 apontam para uma ligeira queda, com a projeção de 16,3% e, para 2024, a previsão é ainda mais modesta, de 15,3%. Apesar de serem índices ainda favoráveis, a tendência de queda na rentabilidade, consequência da normalização do mercado de frango, dificulta a valorização das ações da MBRF.
De acordo com a XP, quase 80% do Ebitda da MBRF nos próximos dois anos deverá vir da BRF, o que torna a normalização das margens do frango crucial para a avaliação e os resultados financeiros no curto prazo. Durante esse período, a National Beef, divisão de carne bovina da MBRF nos EUA, continuará a sofrer com margens comprimidas devido à escassez de gado.
Os analistas estimam que a margem Ebitda da National Beef deve se manter próxima de zero pelo menos até o próximo ano, com melhorias significativas não sendo esperadas antes de 2029. Nesse contexto, a carne de frango deverá ser a principal fonte de surpresas positivas nos resultados da MBRF, uma vez que o segmento de carne bovina na América do Sul representa apenas 11% do total da empresa.
Conteúdo produzido por The AgriBiz.