A isenção de imposto de renda para contribuintes com rendimentos de até R$ 5 mil, bem como a redução da alíquota para aqueles que ganham entre R$ 5 mil e R$ 7.350, deverá proporcionar um aumento na renda disponível para uma parcela significativa da população brasileira. Essa medida, aprovada recentemente pelo Senado, aguarda sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, esperado para ocorrer após a COP30, e começará a valer em janeiro de 2026.
Segundo a M4 Intelligence, entre 17,9 milhões e 20,9 milhões de trabalhadores podem se beneficiar da mudança, resultando em um acréscimo de aproximadamente R$ 27 bilhões no poder de compra para 2026, um fator que também reflete no aumento anual do salário-mínimo.
Para onde irá esse valor extra? A especialista em varejo da XP, Danniela Eiger, destaca que espera um impacto positivo nas vendas do varejo, uma vez que consumidores tendem a utilizar parte desse incremento para consumo imediato. “Quando há benefícios fiscais, é comum que os cidadãos de baixa renda priorizem o consumo imediato, o que deve favorecer o setor varejista”, explica Eiger.
Dívidas e Prioridades de Consumo
No entanto, o destino final desse aumento de renda é incerto. Eiger enfatiza que é provável que uma porção significativa deste valor seja endereçada ao pagamento de dívidas acumuladas ou destinada à compra de itens essenciais, como alimentos, devido à atual limitação do poder de compra das famílias. Essa tendência é evidenciada pelo comportamento recente dos consumidores de baixa renda, que têm optado cada vez mais por produtos de menor custo ou substitutos, priorizando itens básicos.
Impacto em Produtos Duráveis
Embora exista a possibilidade de um efeito positivo sobre categorias de consumo discricionário, como vestuário e eletrônicos, Eiger acredita que o impacto será mais limitado. Produtos duráveis, que demandam um investimento maior, estão mais sujeitos a condições de crédito e taxas de juros. A expectativa de uma redução gradual nas taxas de juros ao longo do próximo ano pode não ser suficiente para fomentar esse segmentação. “Assim, o principal efeito previsto da isenção no varejo se concentrará em bens de consumo essencial ou em produtos discricionários de menor valor”, resume Eiger.
Consumo de Carnes em Alta
A renda extra também pode impulsionar o consumo de carnes. Segundo Leonardo Alencar, head de Agro, Alimentos e Bebidas da XP, tradicionais tendências ocorrerão em 2026, um ano eleitoral, que geralmente traz aumento na renda disponível e estímulo ao consumo de proteínas. “Mesmo sem a isenção fiscal, o cenário é promissor, pois tipicamente há uma correlação entre anos eleitorais e crescimento no consumo desses produtos”, comenta.
Ele acrescenta que a isenção de imposto de renda reforça a perspectiva positiva para o setor em 2026, com expectativa de manutenção da alta dos preços e robustez na demanda interna, além de exportações fortes. Os frigoríficos, especialmente os que atuam nas indústrias de frango e suíno, devem se beneficiar do bom desempenho nas exportações e de margens melhores. Embora haja uma leve pressão de custos, especialmente relacionada aos grãos, a situação permanece favorável para esses segmentos. Para o setor bovino, a atual alta oferta pode se reduzir em 2026, o que pode pressionar os preços do boi, embora menos intensamente do que se previa inicialmente.
Concorrência de Jogos Online
Outro elemento a ser considerado na disputa pela nova renda dos consumidores é o crescente interesse em jogos online. Pesquisa da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas e do Serviço de Proteção ao Crédito indica que cerca de 40 milhões de brasileiros realizaram pelo menos uma aposta ou jogo online nos últimos 12 meses, e 41% admitiram ter reduzido seu consumo em outras áreas para destinar recursos a essas atividades.
Atualmente, o Índice do Setor de Consumo (ICON) da B3 registra alta de 2,97% no mês e de 27,53% no ano, acompanhando o desempenho positivo do mercado, que levou o Índice Bovespa a aumentar 1,69% em novembro e 27,36% no acumulado anual.



