A maior organização indígena do Equador, a Conaie, se manifestou contra uma operação militar realizada pelo governo na última terça-feira. A ação foi implementada para conter os protestos que começaram no dia 22 de setembro, durante os quais os povos indígenas e camponeses se levantaram contra o aumento do preço dos combustíveis. Os protestos deixaram, segundo a Conaie, ao menos 21 feridos na província de Imbabura, a principal área dos tumultos.
Na segunda-feira anterior, um comboio militar com cerca de 100 veículos, incluindo policiais, se dirigiu de Quito para Imbabura. O governo do presidente Daniel Noboa alega que o comboio tem um caráter “humanitário” e tem como objetivo fornecer alimentos às regiões afetadas pelos bloqueios de estrada. Em resposta, a Conaie classificou a ação como uma “operação militar disfarçada”.
Relatos da Conaie indicam que as forças armadas usaram gás lacrimogêneo tanto por via aérea quanto terrestre durante os confrontos, afetando a população local, incluindo mulheres, crianças e idosos. Dentre os feridos, uma mulher foi atingida na cabeça e quatro pessoas foram detidas.
Os protestos são uma resistência à eliminação do subsídio ao diesel, que tem aumentado o custo de vida em um país onde a pobreza rural atinge 41%. Em um episódio anterior, em setembro, um indígena foi morto por disparos das forças armadas, segundo a organização.
Esse foi o segundo comboio enviado à região de Imbabura. Noboa, em suas declarações, acusou os manifestantes de terem ligações com grupos “terroristas” e caracterizou as manifestações como violentas. Nos dias seguintes ao início dos protestos, a caravana do presidente foi atacada com paus e pedras, uma situação que especialistas afirmam ter sido um erro dado o conhecimento prévio do risco.
Durante a mesma sequência de eventos, a caravana presidencial também enfrentou ataques em Cañar, no sul do país. O governo descreveu esses eventos como “tentativas de assassinato” e afirmou que houve disparos, embora não tenham sido apresentadas provas claras. Especialistas acreditam que as deslocações do presidente em áreas de risco podem ser parte de uma estratégia para destacar a violência dos manifestantes e justificar a falta de diálogo.
Nos protestos, as comunidades de Imbabura chegaram a deter 17 militares por três dias. Enquanto isso, manifestações similares, mas de menor intensidade, ocorreram em outras províncias do Equador. A cobertura da imprensa sobre os eventos também levantou preocupações, com a ONG Fundamedios reportando 46 agressões a jornalistas, a maior parte cometida por policiais.