A disputa pelo domínio do mercado de semicondutores, considerada a “guerra fria do século XXI”, é analisada por Alex Gonçalves e Murilo Arruda, sócios da Morada Capital. Para eles, a importância geopolítica das empresas de chips é tamanha que a interrupção de suas operações poderia desestabilizar a economia global.
Arruda destaca a criticalidade da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), afirmando: “Se acabarem com a TSMC, eu não sei como o mundo vive”. A gigante taiwanesa é um foco de tensões entre China e Estados Unidos.
Os gestores enfatizam que o investimento em empresas como a TSMC deve ser avaliado levando em conta tanto critérios financeiros quanto seu impacto geopolítico. Arruda ressalta a importância de equilibrar a análise interna da empresa com fatores externos que influenciam o mercado.
A abordagem da Morada é moldada pela interação constante entre questões globais e as variáveis microeconômicas. Eles argumentam que a volatilidade dos preços das ações é influenciada por mudanças nos fundamentos das empresas e pelas flutuações do custo de capital, afetadas por juros e riscos globais.
“Nada morre de um dia para o outro e nada fica muito bom de um dia para o outro”, observa Arruda. Para ele, desacoplar esses fatores é crucial para compreender os sinais verdadeiros do mercado.
Esse contexto é explorado no episódio do Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo, onde a conversa revela como a Morada Capital alia uma interpretação global abrangente à capacidade de agir de maneira contrária ao consenso do mercado, conforme necessário.
A Revolução da Inteligência Artificial no Mercado Financeiro
Um dos temas centrais na entrevista é a influência da inteligência artificial (IA), que tem se mostrado transformadora na produtividade e na análise de dados. Arruda menciona que começou a utilizar IA em 2021, prevendo uma considerável redução na necessidade de analistas humanos.
“O que levava semanas para tratar uma DRE, hoje faz-se em 30 segundos”
O gestor enfatiza que essa automação transforma o trabalho dos analistas, que passam a atuar mais como gerentes de projetos. Embora a eficiência tenha aumentado, Arruda alerta para a necessidade de atenção redobrada quanto à segurança e qualidade dos dados utilizados.
Citando Jensen Huang, CEO da Nvidia, Arruda destaca que, embora chips com custo marginal zero possam surgir, a produtividade e eficiência energética continuarão a justificar o investimento em produtos de maior qualidade. Isso, segundo ele, deverá reforçar a posição das empresas líderes do setor.
Contudo, essa dominância também acarreta riscos cíclicos. “Sabemos que semicondutores seguem ciclos, mas a força atual é tão intensa que o ciclo pode se estender por um período mais longo”, prevê Arruda. A análise da Morada busca determinar o tamanho do mercado e se uma empresa pode ser caracterizada como monopolista, um critério que orienta suas decisões de investimento.
O Filtro dos Campeões e a Busca por Clareza nas Decisões
Diferentemente de investidores em busca de apostas arriscadas, a Morada Capital foca em empresas líderes em seus setores. “Realizamos um filtro do S&P para identificar o que realmente é dominante”, explica Arruda.
Para ele, clareza e simplicidade são essenciais no processo decisório: “Se algo se torna complicado demais, descartamos. Drunkenmiller afirma que obteve 120% de lucro em operações evidentes e perdeu 20% em apostas complexas”.
Arruda menciona a United Health como exemplo: a análise inicial indicava oportunidade, mas a complexidade envolvida levou a Morada a sair do investimento. Essa abordagem reflete a estratégia da gestora de preservar tempo e foco, recursos considerados limitados no cenário de investimentos.
“Nosso recurso mais escasso é o tempo, então priorizar é essencial”, conclui Arruda. A equipe não é avaliada apenas pela performance das ações, mas pela qualidade de suas ideias e pela contribuição ao debate interno.
Essa dinâmica busca minimizar riscos políticos e fortalecer um ambiente de meritocracia intelectual, com a intenção de mitigar influências externas em suas decisões.