Um novo documento da Igreja Católica, assinado pelo Papa Leão 14, publicado em 5 de novembro de 2025, traz mudanças significativas na forma como a figura de Maria é percebida dentro da doutrina da Igreja. Este texto, elaborado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, veda o uso do título “corredentora” para Maria e recomenda cuidado ao utilizar o termo “medianeira” em relação a ela. A medida divide opiniões e gera reações entre católicos.
A principal abordagem do documento é limitar a devoção mariana, que, nas últimas décadas, ganhou um papel central na teologia católica, levando muitos a vê-la como co-redentora ao lado de Jesus Cristo. Esse cenário fez com que alguns católicos sentissem que a importância de Maria estava sendo diminuída. Especialistas explicam que o objetivo é ajustar a perspectiva da devoção mariana para que fique claro que a salvação é devida somente a Deus e a Cristo.
O teólogo Vinícius Paiva, que se especializa em mariologia, destaca que a intenção não é desvalorizar a fé popular, mas sim corrigir exageros em relação à figura de Maria. Ele afirma que o foco do texto é esclarecer os títulos que são usados e garantir que o papel de Maria como mãe intercessora não obscureça a centralidade de Jesus na doutrina cristã.
A discussão sobre a figura de Maria tem raízes que remontam aos primeiros séculos do cristianismo. Em 431 d.C., no Concílio de Éfeso, Maria foi oficialmente reconhecida como “Mãe de Deus” (Theotokos). Contudo, a devoção popular muitas vezes ultrapassou esse título, levando a uma idealização que atribui a Maria poderes quase divinos. Um exemplo cultural que ilustra essa relação está presente na peça “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, em que Maria é vista como uma intercessora poderosa.
Nos últimos séculos, a figura de Cristo, embora respeitada, acabou sendo percebida como cada vez mais divina e distante. Como resultado, Maria se tornou uma figura mais acessível para os fiéis. Este fenômeno, segundo a antropóloga Lidice Meyer, está ligado à necessidade humana de conexão física nas práticas de fé, levando a uma devoção mais intensa à mãe de Cristo.
Após a publicação do documento, reações adversas começaram a surgir nas redes sociais. Muitos católicos, especialmente os mais conservadores, expressaram indignação e descontentamento, chamando o texto de “nefasto” e “satânico”.
Os autores do documento ressaltam que o uso de títulos que possam promover confusão teológica deve ser evitado. Por exemplo, a expressão “medianeira de todas as graças” é considerada problemáticas, pois pode dar a entender que Maria possui um papel de intercessão que não está devidamente conectado à relação da pessoa com Jesus.
Historicamente, a ideia de Maria como corredentora tem enfrentado resistência na alta hierarquia da Igreja. O Concílio Vaticano II, que aconteceu entre 1962 e 1965, deixou claro que Maria tem um papel subordinado a Jesus. Embora o Papa João Paulo II tenha usado o termo em algumas ocasiões, nunca houve um esforço real para transformar essa expressão em um dogma oficial.
A nova determinação busca promover um diálogo mais harmonioso entre os católicos e outras denominações cristãs, especialmente os protestantes, que costumam criticar a forma como Maria é venerada. O teólogo Tasso sugere que a intenção do papa é facilitar uma comunicação mais eficaz com grupos evangélicos que contestam o papel atribuído a Maria nos rituais católicos.
No entanto, muitos acreditam que o documento não alterará a forma como os fiéis se relacionam com Maria em suas práticas devocionais diárias. Para muitos, a figura de Maria continuará a ser vista como uma mãe amorosa e intercessora, independentemente das mudanças formais na terminologia.
O clima em torno do documento é complexo e revela a importância de uma abordagem cuidadosa no diálogo entre as diferentes correntes do cristianismo, enquanto mantém a devoção sincera à figura materna de Maria no coração dos católicos.



