No próximo sábado, 20 de outubro, a Cúpula do Mercosul, realizada em Foz do Iguaçu (PR), estava programada para ser um marco na busca pela finalização do acordo comercial entre o bloco e a União Europeia (UE). Após quase três décadas de negociações, o encontro gerou expectativas mistas, mesclando otimismo com um ambiente político tenso.
No entanto, nesta quinta-feira, 18 de outubro, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, informou aos líderes do Mercosul que a assinatura do acordo será adiada para janeiro de 2026, conforme apuração da AFP.
Pressões pelo Acordo
A urgência do governo brasileiro por um fechamento do pacto na cúpula era evidente. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a exigir que os negociadores finalizassem o acordo, alertando que, caso isso não ocorresse, o Brasil adotaria uma postura mais rígida nas relações comerciais com a Europa.
Por outro lado, França e Itália intensificaram as pressões no Parlamento Europeu para proteger suas produções agrícolas, que poderiam ser impactadas pela competição com produtos brasileiros. As discussões sobre o acordo foram retomadas durante uma reunião do Conselho Europeu em Bruxelas que segue até esta sexta-feira, 19 de outubro.
Histórico das Negociações
As negociações entre o Mercosul e a União Europeia começaram em 1999, foram suspensas em 2004 e reiniciadas em 2010. O acordo foi assinado pela primeira vez em junho de 2019, sendo considerado uma vitória pelo governo brasileiro daquela época, mas a implementação do pacto ainda depende da ratificação pelos parlamentos de todos os países envolvidos. Obstáculos surgiram ao longo do caminho, com algumas nações solicitando a revisão dos termos.
De acordo com Marcos Troyjo, ex-embaixador e um dos negociadores até 2019, o processo enfrentou diversas barreiras, incluindo a percepção negativa provocada por queimadas na Amazônia e pela pandemia de COVID-19, que ocasionaram um atraso significativo nas discussões.
Novas Perspectivas e Salvaguardas
Com a mudança no cenário político global, marcadas pela eleição de Donald Trump nos EUA, a União Europeia percebeu novas oportunidades comerciais e impulsionou as negociações, que agora incluem salvaguardas adicionais para proteger setores sensíveis, conforme explica Alexandre Lucchesi, do Observatório de Política Externa Brasileira.
A versão atual do acordo é considerada menos ambiciosa que a anterior, mas Troyjo argumenta que é preferível ter um acordo incompleto do que não ter nenhum. As discussões continuarão até janeiro de 2026.
Setores Beneficiados pelo Acordo
Jackson Campos, especialista em comércio exterior, aponta que a aliança entre o Mercosul e a UE pode resultar em benefícios significativos. A redução de tarifas para equipamentos médicos e medicamentos pode modernizar o sistema de saúde brasileiro, enquanto o setor automotivo poderia experimentar uma diminuição nos preços dos veículos importados.
No agronegócio, as expectativas são igualmente promissoras, com previsão de crescimento nas exportações de carnes, açúcar e frutas. Os produtos europeus, como vinhos e queijos, também poderiam se tornar mais acessíveis, aumentando a concorrência e desafiando a indústria local a melhorar seus padrões.
Impactos da Concorrência
Troyjo destaca que o acordo estimulará a concorrência, trazendo benefícios tanto para o comércio quanto para os investimentos. Exemplos incluem o setor de vinhos, onde uma maior oferta pode resultar em preços mais baixos e melhorias na qualidade dos produtos.
A cooperação entre empresas de diferentes blocos pode originar novas joint ventures e fomentar o investimento em setores como tecnologia e técnicas administrativas, gerando efeitos positivos que vão além do comércio direto.



