O apetite por risco, que contribuiu para a valorização do Ibovespa em setembro, tende a se prolongar no curto prazo, conforme análise de especialistas ouvidos pelo Broadcast, do Grupo Estado. Apesar da recente sequência de recordes, a expectativa é que o principal índice da B3 avance cerca de 10% até o final de 2025, impulsionado, principalmente, por investidores estrangeiros.
A possibilidade de cortes adicionais na taxa de juros dos Estados Unidos ainda este ano, após a primeira redução promovida pelo Federal Reserve em setembro, e a avaliação de que a Bolsa brasileira está subvalorizada são fatores que incentivam as apostas. Contudo, os especialistas destacam que existem riscos associados a esse cenário, incluindo a não realização de novas quedas nas taxas de juros nos EUA, a deterioração das contas públicas no Brasil e a manutenção da taxa Selic em níveis elevados por mais tempo do que o previsto.
De acordo com Matheus Amaral, especialista em renda variável do Inter, “o risco fiscal está na mesa”. Mesmo com os índices em alta, a apreensão persiste. Questões relacionadas ao Imposto de Renda já acendem preocupações que podem limitar a valorização do índice e manter seu desconto em relação a outras bolsas emergentes.
O interesse contínuo dos investidores estrangeiros pelo diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos proporciona uma perspectiva de lucros robustos, embora a resistência do Banco Central em sinalizar cortes na taxa desanime os investidores locais. Além disso, o múltiplo Preço/Lucro (P/L) do Ibovespa está atualmente em cerca de 9,5 vezes, abaixo da média de 11,5 vezes e da média dos mercados emergentes, que é de aproximadamente 10 vezes.
Conforme a análise gráfica do Itaú BBA, o Ibovespa permanece em uma tendência de alta no curto prazo, podendo atingir entre 150 mil e 165 mil pontos. Em setembro, o índice registrou um crescimento de 3,40%, o melhor desempenho em seis anos, com um aporte de R$ 5,267 bilhões em recursos internacionais, totalizando cerca de R$ 26 bilhões no ano — a maior quantia em oito anos.
A movimentação no mercado também foi influenciada pela expectativa de nomeação do atual presidente do Fed, Jerome Powell, e pela possibilidade de a administração brasileira conseguir apoio para as reformas propostas no Congresso. Apesar das incertezas internas, as preocupações em torno da economia norte-americana passaram a tomar destaque, especialmente diante da volatilidade da nova administração Trump, que impôs tarifas elevadas para diversos países, com o Brasil sendo um dos mais afetados.
Para Marcos Vinícius Oliveira, economista e analista sênior da ZIIN Investimentos, a expectativa de cortes nas taxas pelo Fed e o início da queda da Selic poderão fortalecer ainda mais o Ibovespa e facilitar o ingresso de capital estrangeiro. Oliveira acrescenta que o processo de valorização do índice está apenas começando, com a presença de investidores estrangeiros ainda em crescimento.
Embora a projeção de afrouxamento monetário em dezembro tenha sido ofuscada pelo tom conservador da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que sugere uma Selic elevada por um período prolongado, o cenário ainda apresenta oportunidades. Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, ressalta que o Brasil segue como uma opção atrativa em comparação a países vizinhos, como a Argentina, que enfrenta uma crise severa.
A Influência das Próximas Eleições
Com a proximidade da janela de 12 meses para a eleição de 2026, analistas acreditam que uma sinalização de mudança na gestão presidencial pode impulsionar o Ibovespa, mesmo que isso não esteja ainda refletido nos preços. A expectativa é de um direcionamento mais responsável da política econômica, que possa prever melhoras estruturais no médio prazo.
Os investidores começam a vislumbrar a possibilidade de um governo “mais responsável”, o que poderia agradar o mercado. As próximas decisões políticas serão cruciais para moldar o ambiente econômico e a confiança dos investidores na Bolsa brasileira.