Na última reunião, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, uma escolha que era esperada pelo mercado. No entanto, o tom do comunicado e a ata, que indicam a intenção de manter a taxa elevada “por período bastante prolongado”, surpreenderam os agentes financeiros.
A decisão influenciou o mercado de títulos públicos, com o Tesouro Direto registrando uma abertura nas taxas, interrompendo uma tendência de queda enquanto os investidores já projetavam o início de um ciclo de cortes na Selic. No fechamento em 17 de setembro, o Tesouro Prefixado 2032 oferecia uma taxa de 13,46% ao ano. Em 26 de setembro, essa taxa subiu para 13,59%. Ao mesmo tempo, a rentabilidade real do Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2035 aumentou de 7,40% para 7,47%, enquanto o Tesouro IPCA+ 2029 subiu de 7,60% para 7,83% ao ano.
Diante do aumento das taxas em um cenário onde se esperava queda, investidores enxergam uma oportunidade para garantir retornos elevados. Enrico Gazola, economista e sócio-fundador da Nero Consultoria, destaca que isso pode permitir tanto uma captura de rendimentos altos quanto uma lucratividade com a marcação a mercado, especialmente à medida que a expectativa de redução da Selic se consolida para 2026, ainda que talvez com um atraso em relação ao previsto inicialmente.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, reforça que não estamos diante da última oportunidade para garantir juros reais acima de 7% no Tesouro IPCA+. Segundo ele, este poderia ser um dos melhores momentos em meses para investir no Tesouro Direto.
Investimento em Títulos do Tesouro Direto
Aqueles que já planejavam comprar títulos prefixados ou de inflação e têm disponibilidade de caixa podem, segundo Lima, adiantar seus aportes. Ele recomenda equilibrar investimentos com liquidez e diversificação a fim de mitigar riscos. Gazola acredita que atualmente existem oportunidades para diferentes perfis de investidores: tanto para quem deseja manter os títulos até o vencimento quanto para aqueles que visam lucrar com a venda antecipada na anticipação de cortes nas taxas.
Se o objetivo é aproveitar as taxas altas para um lucro imediato, Lima alerta que essa estratégia depende do timing e da volatilidade do mercado, recomendando alocações menores e a definição de critérios de saída. Tiago Ranalli, sócio da CX3 Investimentos, adota uma postura cautelosa. Ele argumenta que não é prudente decidir por uma compra apenas devido ao aumento momentâneo das taxas e sugere que os investidores considerem um planejamento estrutural para seu portfólio no Tesouro Direto, levando em conta o contexto mais amplo do mercado.
Atualmente, os pós-fixados do Tesouro Direto estão disponíveis com taxas de 15% ao ano em um ambiente de inflação ao redor de 5%. Ranalli destaca que a CX3 está posicionado em títulos ligados aos juros para maximizar o ganho real, sugerindo uma manutenção estrutural na carteira e rebalanceamento conforme necessário. Apesar de ver oportunidades no cenário atual, Gazola recomenda cautela nas alocações, uma vez que parte da expectativa de queda de juros já pode estar embutida nas taxas, limitando o potencial de ganhos por decisões precipitadas.
Ao discutir riscos, Gazola sugere que os investidores não concentrem toda sua capacidade em prefixados e títulos de inflação, mas sim mantenham uma diversificação adequada, prestando atenção na evolução das expectativas de inflação e no cenário fiscal.