O filme “Vicious”, dirigido por Bryan Bertino, traz uma proposta de terror psicológico centrada na personagem Polly, interpretada por Dakota Fanning. A trama gira em torno de uma jovem que enfrenta um estado profundo de depressão e é atormentada por alucinações. Contudo, o que a afflige e por que ela sofre não são bem definidos ao longo da narrativa, o que pode deixar o público sem uma conexão clara com a protagonista.
No início do filme, Polly é apresentada em um ambiente marcado por luzes vermelhas, enquanto uma narração expressa seu desespero e solidão. Essa atmosfera de triste expectativa é reforçada em cenas onde ela tenta se preparar para uma entrevista de emprego, ao mesmo tempo em que tenta acalmar sua mãe, preocupada com seu estado emocional. Essas sequências iniciais ajudam a criar um clima denso e pesado, mas logo o filme parece acelerar sua narrativa de forma exagerada.
Diferentemente de clássicos como “Repulsion” e “Rosemary’s Baby”, que construíram uma tensão gradual, “Vicious” opta por mergulhar de cabeça nas alucinações de Polly desde os primeiros momentos. O filme chega a um ponto crítico quando Polly recebe uma caixa misteriosa de uma mulher idosa, que lhe apresenta uma série de desafios inquietantes, como entregar à caixa “algo que você odeia, algo que precisa e algo que ama”. Esses desafios a forçam a confrontar traumas pessoais, trazendo elementos de terror visual, como partes do corpo mutiladas e estranhas aparições que a assustam.
A atmosfera do filme é um de seus pontos fortes, com a cenografia da casa de Polly, que parece vasta e isolada. As janelas grandes oferecem pouca sensação de acolhimento, e quando Polly busca apoio em um vizinho, a situação rapidamente se transforma em um pesadelo, reforçando a ideia de que não há ajuda disponível para ela.
À medida que avança, Polly é perseguida por visões de seus entes queridos, mas o filme evita explorar seu passado pessoal em maior profundidade. Essa limitação pode distanciar o público de Polly, mas ressalta ainda mais sua solidão. Uma cena marcante mostra uma conversa telefônica com sua mãe que se torna angustiante ao revelar uma mudança sinistra na voz, uma técnica que o filme retorna com freqüência para acentuar a sensação de traição e desconfiança.
Apesar da performance intensa de Fanning, que capta bem a tensão e a vulnerabilidade de Polly, “Vicious” acaba se tornando uma experiência arrastada. A falta de uma evolução narrativa clara e a repetição de sustos altos e estrondosos sem um verdadeiro desenvolvimento emocional faz com que a trama perca o impacto desejado. O filme, embora tente provocar com sua abordagem crua, não consegue manter a narrativa coesa necessária para deixar uma impressão duradoura.
“Vicious” está disponível para streaming na plataforma Paramount+.