Nesta quarta-feira (19), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, que apontam uma diminuição do trabalho remoto, ou home office, no Brasil. Após atingir seu pico em 2022, quando representou 8,4% da força de trabalho, o percentual caiu para 7,9% em 2024, marcando o segundo ano consecutivo de retração.
Esse movimento sugere uma reversão gradual do modelo de trabalho remoto, especialmente nas funções que haviam se adaptado ao home office durante a pandemia. Apesar de a flexibilidade ainda estar presente, a predominância do trabalho remoto caminha de volta à estrutura tradicional, com foco em setores como serviços, comércio e atividades operacionais.
Estabelecimentos
Os dados também revelam que 59,4% da população ocupada no setor privado, o que equivale a 49,9 milhões de pessoas, está associada a estabelecimentos próprios. Esse número é resultado de um crescimento de 3,2% em 2023, sinalizando uma recuperação de um mercado que vinha diminuindo desde 2015.
- Aumenta a tendência do empreendedorismo como solução para gerar renda em um cenário de informalidade.
- Os micro e pequenos negócios mantêm protagonismo, particularmente nos setores de serviços e comércio.
As regiões Sul (65,0%) e Sudeste (64,0%) são as que apresentam os maiores índices de trabalhadores em estabelecimentos próprios. Em contrapartida, as regiões Norte (47,9%) e Nordeste (49,5%) registram menos da metade da força de trabalho, o que evidencia desigualdades históricas no país. O Sudeste, que chegou a 72,2% em 2014, acumula uma queda de 8,2 pontos percentuais desde 2012, embora tenha observado uma leve recuperação em 2024.
Gênero
O recorte de gênero na pesquisa é revelador: 72,1% das mulheres estão empregadas em estabelecimentos próprios, enquanto entre os homens esse número é de apenas 51,7%. Regiões como Centro-Oeste, Norte e Nordeste apresentam disparidades ainda maiores, indicando que o empreendedorismo feminino se manifesta como uma resposta mais comum a um mercado formal restrito.
No setor rural, atualmente, 8,6% da população ocupada se dedica a atividades em fazendas, sítios, granjas ou chácaras. No entanto, esse número tem mostrado uma consistente diminuição, passando de 9,5 milhões de trabalhadores em 2012 para 7,2 milhões em 2024, uma queda de 24,5%, com o Nordeste enfrentando uma redução de 35%.
Logística
O Brasil conta com 11,8 milhões de trabalhadores que atuam em locais designados pelo empregador ou cliente, predominando no Centro-Oeste, onde esse índice chega a 16,9%. Este dado reflete a importância das atividades com deslocamento frequente, como serviços porta a porta e logística.
Além disso, os profissionais que trabalham em veículos automotores, como motoristas de aplicativo e entregadores, registraram uma alta de 5,4% em 2024, totalizando 4,1 milhões de trabalhadores. Esse crescimento, de 53,4% desde 2012, é impulsionado pela expansão das plataformas digitais e pela consolidação da gig economy no Brasil.
Formação e formalização
Segundo a PNAD, o número de empregadores e trabalhadores por conta própria alcança 29,8 milhões, sinalizando um aumento de 1,8% em um ano. Entretanto, apenas 33,6% desse grupo possui CNPJ, indicando que a formalização avança, mas de forma lenta. A desigualdade é acentuada, com 80% dos empregadores tendo CNPJ, em comparação com apenas 25,7% dos trabalhadores por conta própria.
O nível de escolaridade é um fator crucial para a formalização. Quase metade (48,4%) dos trabalhadores com ensino superior está registrada, enquanto apenas 11% dos que não possuem instrução formal têm acesso a esse benefício.
Diferenças regionais
As desigualdades regionais são notáveis na PNAD de 2024. As regiões Norte (14,8%) e Nordeste (19,2%) apresentam os menores percentuais de formalização, enquanto o Sul atinge quase 45,2% e o Centro-Oeste 40,3%, com o Sudeste se posicionando em 39,8%.
Setores mais fortes
Os setores de comércio e serviços continuam a liderar tanto em número de trabalhadores quanto em taxa de formalização, refletindo a importância dessas atividades para a economia nacional. A construção civil destacou-se com um dos maiores avanços no registro de CNPJ, com um acréscimo de 70 mil novos cadastros em 2024.
A participação de trabalhadores e empregadores em cooperativas ainda é tímida, representando apenas 4,3% do total, o que evidencia que a maior parte das atividades econômicas ocorre em arranjos individuais, mesmo em setores que poderiam se beneficiar da colaboração.
Raio X do mercado
Os dados de 2024 refletem um mercado de trabalho em adaptação, mas ainda permeado por desigualdades regionais, educacionais e de gênero. Esses elementos são fundamentais para prever os próximos movimentos da economia brasileira.



