O mercado de prata em Londres enfrenta uma situação de volatilidade extrema, com um short squeeze que elevou os preços do metal a mais de US$ 50 por onça, um marco registrado pela segunda vez na história. Este evento remete à tentativa dos irmãos Hunt de controlar o mercado na década de 1980.
Os preços de referência em Londres dispararam, refletindo níveis quase nunca vistos em comparação a Nova York. Operadores relatam uma queda drástica na liquidez, resultando em investidores que enfrentam dificuldades para acessar a prata física e forçados a arcar com elevados custos para gerenciar suas posições. Para contornar essa crise, alguns traders estão optando por enviar barras de prata por meio de transporte aéreo, uma prática geralmente reservada para o ouro, com o intuito de lucrar com os prêmios consideráveis em Londres.
Segundo especialistas, a atual turbulência no mercado não é atribuída a uma figura singular que busque dominar a prata, como ocorreu no passado. Em vez disso, múltiplos fatores, como a crescente demanda por prata na Índia e a escassez de barras disponíveis, estão contribuindo para a inusitada alta de preços. Além disso, a situação é agravada pelas incertezas em torno de tarifas de importação nos Estados Unidos.
Historicamente, Londres desempenha um papel central no comércio de metais preciosos, onde os bancos fixam os preços globais negociando barras armazenadas em cofres. O estoque de prata disponível na cidade tem diminuído continuamente, com uma queda de um terço desde 2021, em parte devido a déficits de produção e à necessidade de envio de prata aos EUA.
Como resultado, os estoques em Londres, que são essenciais para garantir a liquidez do mercado, caíram 75% desde 2019, segundo dados da Bloomberg. Essa redução foi impulsionada por fundos negociados em bolsa (ETFs) e um aumento na retirada de barras, refletindo um cenário difícil onde o volume realmente disponível para negociação ronda apenas 200 milhões de onças.
Nos últimos dias, o mercado quebrou vários recordes, com o leilão diário de prata de Londres atingindo pela primeira vez preços acima de US$ 50 desde sua inauguração em 1897. O preço à vista superou o valor de contratos futuros em Nova York, um fenômeno raramente visto. O custo de empréstimo de prata em Londres teve um aumento acentuado, registrando taxas superiores a 100% ao ano, um patamar alarmante em comparação ao que foi observado em 1980.
As distorções de preço também se refletem em spreads amplificados, que aumentaram de cerca de US$ 0,03 for ounce para mais de US$ 0,20, evidenciando uma situação de liquidez crítica.
O histórico recente de preços mostra algumas semelhanças com a tensão do passado. Em 1980, a tentativa dos irmãos Hunt foi interrompida por intervenções das bolsas de commodities. Hoje, o alívio no mercado depende da chegada de novas barras de prata em Londres, seja através de vendas de ETFs, seja por meio de envios aéreos de outras regiões.
Com a crescente pressão no mercado, autoridades como a London Bullion Market Association (LBMA) estão monitorando de perto a situação. A dinâmica atual reflete um interjogo complexo entre a demanda crescente por prata, a escassez do metal e as incertezas políticas que podem afetar a dinâmica do mercado.
O movimento para a normalização do mercado pode depender da logística em torno dos estoques disponíveis em outras regiões, como a China e os EUA. A medida que as preocupações sobre tarifas e a fluidez de envios se manifestam, os especialistas estimam que a situação precisa de uma rápida adaptação para restaurar o equilíbrio no mercado.