A prévia da inflação, divulgada nesta quarta-feira (26), apresentou um aumento de 0,20%, impulsionada pelo setor de serviços, mas atenuada pela queda nos preços de alimentos. Com esse resultado, o índice acumulado em 12 meses alcançou 4,50%, atingindo o teto da meta estabelecida pelo Banco Central para o ano. A meta de inflação é de 3%, com uma margem de variação de 1,5 ponto percentual.
Especialistas avaliam que esse dado indica uma tendência de baixa na inflação para 2023 e aumenta as expectativas de um corte na taxa Selic, a taxa básica de juros, previsto para janeiro de 2024.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que indica a prévia da inflação oficial, mostrou um aumento de 0,20% em novembro, refletindo uma variação de preços entre 16 de outubro e 15 de novembro. Este resultado ficou ligeiramente acima das expectativas de mercado, que eram de 0,18%.
Entretanto, a média dos núcleos, uma medida que exclui itens mais voláteis, avançou apenas 0,27%, num patamar inferior ao esperado pelos analistas, que era de 0,29%. Apesar da aceleração em relação a outubro, os dados sugerem um cenário benigno, com a inflação subjacente nos serviços mostrando perda de força.
O setor de Transportes destacou-se como a principal causa da “surpresa altista”, subindo 0,22%, especialmente devido ao aumento das passagens aéreas, que cresceram 11,87%. Segundo André Valério, economista sênior do Inter, esse item volátil foi o maior responsável pela aceleração dos serviços, que registraram alta de 0,66%.
Por outro lado, houve alívio em itens essenciais. O grupo Alimentação e Bebidas variou +0,09%, interrompendo cinco meses de queda. Entretanto, a alimentação no domicílio apresentou uma redução de -0,15%. Leonardo Costa, economista do ASA, explicou que quedas em produtos como leite longa vida, arroz e frutas compensaram aumentos em itens como batata e carnes. A alimentação fora de casa, por sua vez, elevou-se em +0,68% devido ao aumento de lanches e refeições. Adicionalmente, os combustíveis tiveram uma queda de -0,46% e a energia elétrica, -0,38%, apesar de ainda estarem sob a bandeira tarifária vermelha patamar 1.
Dos nove grupos analisados, sete apresentaram alta. O grupo Despesas Pessoais cresceu +0,85%, impulsionado por hospedagens e pacotes turísticos, enquanto Saúde e Cuidados Pessoais teve um aumento de +0,29%, em razão dos planos de saúde.
Em relação ao cenário de desinflação, apesar da leve aceleração no índice geral, os dados qualitativos sugerem estabilidade. Costa destaca que a inflação subjacente de serviços ficou abaixo das expectativas, enquanto a média móvel de três meses desse indicador diminuiu de 4,76% para 4,44%. Valério também ressaltou que a média dos núcleos mostra uma queda na média móvel trimestral, alcançando 0,23%, a menor desde setembro de 2023. O índice de difusão, que mede o aumento dos preços, subiu de 51% para 55%, indicando um nível contido e consistente com o processo de desinflação.
Os economistas mantêm a expectativa de que o IPCA completo continue a desacelerar, encerrando 2024 próximo do teto projetado de 4,50%. Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), observa que os números refletem uma economia em que se unem estabilidade e crescimento, impulsionado pelo consumo das famílias.
Com relação à política monetária, Valério argumenta que os dados atuais indicam que o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá iniciar um ciclo de corte na Selic na próxima reunião em janeiro, reduzindo a taxa em 25 pontos base. Cristano Oliveira, diretor de pesquisa econômica do Banco Pine, projeta que, ao final de 2026, a taxa básica de juros pode se aproximar de 12%, prevendo que a instituição ajuste suas expectativas para 11,5%. Ele adverte que existe um risco de o mercado exagerar na precificação de um ciclo de redução mais intenso do que o atualmente considerado.


