O cenário econômico para 2026 apresenta uma combinação de um mercado de trabalho dinâmico e uma inflação persistente nos serviços, além de iniciativas governamentais destinadas a impulsionar a atividade econômica. Essas circunstâncias criam um desafio adicional para o Banco Central, que deverá considerar o início de um ciclo de cortes na taxa Selic, a taxa básica de juros.
A análise é de Roberto Secemski, economista-chefe do Barclays para o Brasil, que prevê o primeiro corte na Selic a partir de março. Em entrevista, Secemski expôs suas expectativas sobre a economia brasileira.
Aumento da estimativa de crescimento do PIB
Secemski revisou a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2026, elevando-a de 1,7% para 2%. Essa mudança é atribuída principalmente a políticas fiscais expansionistas. Segundo ele, a interação entre um ambiente econômico resiliente e uma política fiscal mais frouxa impactará os próximos passos na política monetária.
“Não se trata apenas de medidas fiscais, mas de uma série de programas de estímulo que serão implementados nos próximos trimestres”, afirmou. O economista destacou que o governo levantará R$ 225 bilhões em 2026, o que deve proporcionar um impulso significativo à economia. O crédito habitacional, especialmente por meio do programa Minha Casa, Minha Vida e do Sistema Financeiro Habitacional (SFH), assim como o programa Reforma Casa Brasil, que oferece linhas subsidiadas e isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil, são exemplos dessas iniciativas.
“Essas ações sugerem uma sustentação econômica que poderá manter o PIB operando acima de seu potencial, embora seja desafiador mensurar o impacto exato disso na atividade econômica”, acrescentou Secemski. Ele observou que as medidas expansionistas podem limitar o espaço para cortes mais amplos na taxa de juros, dado que uma parte do esforço da política monetária poderá ser neutralizada.
Espaço reduzido para cortes na Selic
Secemski projetou um ciclo de afrouxamento restrito da Selic, estimando um corte de 2,25 pontos percentuais entre março e setembro de 2026. Ele destacou que, apesar dos cortes, as condições monetárias permanecerão apertadas, com impactos na atividade econômica nos próximos trimestres.
Fatores que dificultam cortes adicionais
O economista também ressaltou que, embora a atividade econômica e a inflação estejam se comportando conforme as expectativas da política monetária, não há sinais de um enfraquecimento mais acentuado do mercado de trabalho. A taxa de desemprego, que não está mais em queda, mas também não apresenta aumento, sugere uma possível estabilização. Essa condição, segundo Secemski, não justifica um adiantamento na decisão de cortes na Selic.


