Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC, que é a parte da ONU responsável por questões climáticas, fez uma autocrítica sobre o debate referente ao clima. Ele afirmou que a linguagem utilizada no assunto é muito técnica e que tornar esses temas mais acessíveis ao público é uma prioridade para a COP30, a conferência climática que ocorrerá em Belém no próximo mês.
Stiell ressaltou que termos como “1,5°C de aquecimento global” podem não fazer sentido para a maioria das pessoas. Ele acredita que é essencial usar uma linguagem mais humana e simples para conectar a ciência climática ao cotidiano da população. A meta de 1,5°C, que havia sido estabelecida no Acordo de Paris em 2015 por quase 200 países, visa limitar os danos da crise climática, mas sua eficácia tem sido questionada desde então.
O secretário-executivo defendeu o Acordo de Paris, mencionando que, com sua implementação, os investimentos em energia limpa aumentaram consideravelmente e que as emissões de gás carbônico estão diminuindo. No entanto, ele reconheceu que o progresso ainda não é suficiente e é necessário intensificar os esforços para obter resultados mais rápidos e adequados, conforme exigido pela ciência.
Stiell, que nasceu na Irlanda do Norte e tem raízes na Granada, um arquipélago do Caribe, relembrou experiências pessoais marcantes, como a devastação causada pelo furacão Barril em 2024 em sua região natal. Ele ocupou o cargo na UNFCCC em um período complicado, marcado por crises geopolíticas, como a reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos, que já anunciou uma nova saída do Acordo de Paris.
Ele foi enfático ao afirmar que as negociações climáticas estão intimamente ligadas à política e à economia, e que a mudança climática exige uma resposta conjunta de todos os países. Stiell destacou que é fundamental demonstrar à população que o aquecimento global não apenas ameaça seus lares e empregos, mas também interfere em itens essenciais como alimentação e energia.
Além disso, ele apontou que muitos compromissos do Acordo de Paris ainda não foram cumpridos completamente. Ele explicou que, enquanto investimentos em energia limpa cresceram significativamente, o financiamento climático necessário para os países em desenvolvimento continua aquém do ideal, apontando que um das metas é chegar a US$ 1,3 trilhão para atender a essas necessidades.
Stiell também mencionou que a assistência financeira deve ser vista como um investimento em resiliência, e não como caridade. Ele elogiou a COP30 e o presidente brasileiro Lula por enfatizarem a importância de tornar as ações climáticas mais relevantes e visíveis para a sociedade.
Com relação à situação atual e às dificuldades financeiras, ele observou que o financiamento climático para adaptação está em déficit, e que muitas das nações que mais precisam desse apoio são também as que enfrentam altos níveis de dívida. O secretário-executivo concluiu que a cooperação internacional é a chave para enfrentar essas questões climáticas e que deixar todos os países e partes interessadas fora da conferência seria prejudicial.
Simon Stiell, de 56 anos, nasceu em 1968 e fez sua carreira na política de Granada, onde ocupou diversos cargos, incluindo o de ministro de Clima e Meio Ambiente. Ele foi designado como secretário-executivo da UNFCCC em 2022.