Na quarta-feira, 17 de outubro, agricultores em Bruxelas, Bélgica, protestaram contra um potencial acordo de livre comércio entre a União Europeia e as nações sul-americanas, bloqueando ruas e lançando ovos e fogos de artifício em frente à cúpula de líderes da UE. A polícia respondeu com gás lacrimogêneo e canhões de água, à medida que os manifestantes se reuniam na Place Luxembourg, próxima ao Parlamento Europeu.
A principal preocupação dos agricultores é que o acordo comprometa sua subsistência, além de temores políticos sobre um possível aumento no apoio à extrema-direita na Europa. Durante a cúpula, os líderes dos 27 países da UE discutiram a possibilidade de alterar o pacto comercial ou adiar sua assinatura.
Resistência Crescente na Europa
A Itália se juntou à França na oposição ao acordo com o Mercosul, que envolve Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, declarou ao Parlamento que a assinatura do tratado nos próximos dias seria “prematura”, exigindo garantias mútuas para proteger o setor agrícola europeu.
O presidente francês, Emmanuel Macron, também se manifestou contra o acordo, afirmando que ele “não pode ser assinado” na sua forma atual e pedindo mais discussões em janeiro. Macron enfatizou a necessidade de salvaguardas para evitar disrupções econômicas e solicitou restrições ambientais mais rigorosas dos países do Mercosul.
A resistência da Itália pode proporcionar à França os votos necessários para vetar a assinatura pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que está a favor do tratado.
Implicações Estratégicas do Acordo
Apesar das objeções, defensores do acordo, que está em negociação há 25 anos, argumentam que ele poderia criar um mercado de 780 milhões de pessoas e servir como contrapeso estratégico às políticas de exportação da China e às tarifas dos Estados Unidos. O chanceler alemão, Friedrich Merz, alertou que um adiamento ou cancelamento do tratado prejudicaria o status global da UE. “Se a União Europeia deseja se manter credível na política comercial global, as decisões precisam ser tomadas agora”, enfatizou Merz.
Pressão da América do Sul
Os líderes sul-americanos, por sua vez, não demonstraram intenção de mudar suas posições. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, expressou sua determinação em fechar o acordo neste sábado, 20 de outubro, considerando-o uma conquista diplomática importante. Lula manifestou irritação em relação às posturas de França e Itália durante uma reunião ministerial, afirmando: “Se não fizermos agora, o Brasil não fará mais acordos enquanto eu for presidente”. O presidente argentino, Javier Milei, também apoiou o tratado, considerando o Mercosul uma “lança” para acessar mercados globais, e não apenas um escudo protetor.
Embora a assinatura do acordo enfrente probabilidades de adiamento, Ursula von der Leyen e o presidente do Conselho Europeu, António Costa, ainda planejam a viagem ao Brasil neste sábado.
Fonte: Associated Press*



