Na quinta-feira, 9 de setembro, o mercado financeiro brasileiro reagiu a dois principais eventos antes do início das negociações: a queda da Medida Provisória 1.303 no Congresso e a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, que veio com números abaixo do esperado. No começo do dia, a reação inicial foi positiva, com o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores, subindo e o dólar apresentando queda. No entanto, essa tendência não se sustentou. Entre o final da manhã e o início da tarde, a bolsa passou a oscilar entre perdas e ganhos, e o dólar voltou a subir. Por volta das 15h, o Ibovespa registrava uma queda de 0,31%, enquanto a moeda americana avançava 0,48%, cotada a R$ 5,37.
A derrubada da Medida Provisória 1.303, que previa medidas fiscais, gerou cautela entre os investidores, que estão atentos aos próximos passos do governo. Na próxima semana, o governo deverá discutir alternativas para compensar a perda de receitas que estavam previstas na MP. Especialistas apontaram que, se não forem aprovadas novas medidas ou encontradas novas fontes de receita, pode haver uma revisão da meta fiscal para o próximo ano, o que seria um sinal negativo para a economia.
Apesar das preocupações relacionadas ao cenário fiscal, alguns analistas observaram um “alívio nas tensões em Brasília”, o que contribuiu para um clima mais otimista no mercado. A queda da MP 1.303 aliviou a pressão sobre ativos de fintechs, que voltaram a ter impostos menores, e sobre bancos, que mantêm isenções em produtos como Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do Agronegócio (LCAs).
No entanto, o que teve um impacto ainda maior foi o resultado do IPCA, que mostrou inflação mais controlada. O índice apresentou dados que indicam um resfriamento econômico, o que pode facilitar o trabalho do Banco Central. A XP, uma das empresas que analisa o mercado, revisou sua projeção para a inflação de 2025, reduzindo a expectativa de 4,8% para 4,7% após os resultados do IPCA.
Por outro lado, a Diretoria de Política Monetária do Banco Central também trouxe preocupações. O diretor Nilton José David destacou que a Selic, a taxa básica de juros, deve permanecer em 15% por um período mais longo e que o Banco Central não hesitaria em aumentar a taxa novamente, caso fosse necessário. Ele mencionou que houve discussões sobre a possibilidade de subir a Selic na reunião anterior, mas a decisão foi de manter os juros em 15% por mais tempo, considerando o cenário atual de incertezas.
Além disso, fatores externos também influenciaram os mercados no dia. A expectativa pela vitória da candidata conservadora Sanae Takaichi como primeira-ministra do Japão pressionou o iene, que se desvalorizou frente ao dólar. Na Europa, a instabilidade política na França, com a dissolução do governo pouco tempo após a formação, também afetou o euro, aumentando as incertezas no mercado internacional.
Esses eventos externos ajudaram o dólar a registrar seu melhor desempenho desde julho, contribuindo para um fluxo de saída de investimentos em mercados emergentes, incluindo o Brasil, o que teve reflexos negativos no real e na bolsa de valores. Entretanto, os juros do Tesouro Direto, em um reflexo do IPCA mais brando, continuaram em uma trajetória de queda.