O superávit comercial da China em bens ultrapassou a marca de US$ 1 trilhão em 2023, um feito inédito que ressalta a predominância do país em diversos setores, desde veículos elétricos a produtos básicos como camisetas. Nos primeiros 11 meses do ano, as exportações aumentaram 5,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando US$ 3,4 trilhões, enquanto as importações caíram 0,6%, somando US$ 2,3 trilhões. Esses dados foram divulgados pela Administração Geral de Aduanas da China em 8 de dezembro.
Esse resultado reflete uma trajetória de transformações econômicas que começou no final dos anos 1970, quando a China abandonou uma economia agrária para se tornar a segunda maior economia global. Inicialmente conhecida como “chão de fábrica do mundo”, a China diversificou sua produção, ampliando a gama de produtos fabricados, incluindo tecnologias avançadas, como painéis solares e semicondutores.
O superávit comercial anterior, registrado em 2022, foi de US$ 993 bilhões. Com o novo marco de US$ 1,08 trilhão, a ascensão das exportações chinesas se torna ainda mais evidente, gerando preocupações sobre os desequilíbrios econômicos globais. Jens Eskelund, presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China, destacou que o tamanho do superávit implica que não apenas os Estados Unidos e a Europa, mas o mundo todo terá que gerenciar essa diferença comercial.
Apesar das tarifas impostas pelos Estados Unidos, que em alguns momentos chegaram a ultrapassar 100%, as exportações chinesas continuam a crescer. O país ajustou suas rotas comerciais, redirecionando embarques para a África, Sudeste Asiático e América Latina, onde as exportações aumentaram 26%, 14% e 7,1%, respectivamente. Em contraste, as exportações para os EUA caíram 29% em novembro em relação ao ano anterior.
Economistas do Morgan Stanley preveem que a participação chinesa nas exportações globais de bens deve crescer para 16,5% até o final da década, em comparação com cerca de 15% atualmente. Essa expansão é impulsionada pela habilidade da China em antecipar tendências de demanda global e na mobilização de recursos para fortalecer sua capacidade de produção.
No cenário internacional, a crescente competitividade da China vem preocupando países, especialmente na Europa, onde indústrias significativas, como automóveis e tecnologia, estão se sentindo ameaçadas. O presidente francês Emmanuel Macron expressou a necessidade de a Europa reagir à vantagem competitiva da China, alertando que medidas drásticas podem ser necessárias se Pequim não considerar ajustes em sua política comercial.
Paralelamente, Eskelund enfatiza que a insatisfação global em relação a práticas comerciais da China está em ascensão, não se limitando apenas aos Estados Unidos, mas abrangendo também países do Sudeste Asiático, América Latina e Oriente Médio. Ele adverte que o desequilíbrio é ainda mais acentuado quando se considera a fraqueza do yuan chinês, evidenciando que a China representa aproximadamente 37% de todas as exportações em contêineres, mesmo enquanto continua a enfrentar críticas sobre suas práticas comerciais.



