O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma variação de 0,18% em novembro, conforme divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este resultado representa um sinal positivo sobre o comportamento da inflação de curto prazo, pois ficou abaixo das expectativas do mercado. Após 13 meses acima do limite de 4,5%, a inflação anualizada retornou a patamares dentro da meta estabelecida. Apesar desse alívio, economistas não vislumbram uma mudança iminente nas decisões do Banco Central (BC) relacionadas à taxa de juros.
As expectativas sobre um possível início de flexibilização monetária permanecem divididas, com projeções variando entre janeiro e março de 2026.
As análises de instituições financeiras destacam a deflação de 0,20% nos alimentos consumidos no domicílio, influenciada pela queda nos preços de cereais. O Bradesco aponta que esse grupo acumula alta de apenas 2,5%, comparado aos 8% observados no início do ano. Outro fator apontado como positivo foi a redução de 0,29% nos preços de bens industriais, impulsionada por promoções da Black Friday, que resultaram em deflação tanto de bens duráveis quanto de não duráveis.
Entretanto, alguns dados de novembro suscitam cautela. Claudia Moreno, economista do C6 Bank, alerta que os preços dos serviços subjacentes — que excluem itens voláteis como passagens aéreas — continuam elevados, apresentando uma alta de 6% até novembro. Ela enfatiza que, apesar da melhora no índice geral, o controle da inflação continua sendo um desafio.
Os núcleos da inflação subiram 0,23% no mês, e, na métrica anualizada de três meses, o núcleo que melhor prevê a inflação permaneceu em 3,9%, refletindo a menor pressão dos bens industriais e dos serviços, segundo o Bradesco. O Itaú observa que o IPCA se aproximou das expectativas, mas com uma composição ligeiramente mais favorável, indicando uma tendência de inflação de curto prazo mais estável.
Com relação às expectativas para a taxa Selic, Claudia Moreno afirma que os dados não alteram a previsão de que a taxa será mantida em 15% na reunião do Copom nesta quarta-feira. Estima-se que cortes na taxa só comecem em março, com a Selic projetada para 13% até o final de 2026.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, ressalta a preocupação com os serviços intensivos em mão de obra, que apresentaram um aumento de 0,61% entre outubro e novembro. Ele destaca que, no acumulado de 12 meses, esses serviços avançaram para 6,69%, refletindo um mercado de trabalho ainda forte.
Sung acredita que o BC adotará uma postura prudente na reunião do Copom, visando preservar a credibilidade e evitar descompassos na condução da política monetária. Ele menciona que as expectativas de inflação continuam desancoradas em relação à meta, apesar das recentes melhorias.
A Suno projeta que, em janeiro, o Copom deve suavizar sua comunicação, preparando o terreno para um ciclo de afrouxamento cauteloso, com o primeiro corte de 0,50 pontos percentuais previsto para março. A XP, por sua vez, acredita que os indicadores de serviços, embora tenham mostrado algumas melhorias, ainda permanecem desafiadores e não devem impactar substancialmente a estratégia do Copom.
André Valério, economista sênior do Inter, considera que o resultado de novembro confirma um panorama benigno para a inflação, com os núcleos apresentando maior acomodação. Ele sugere que as chances do IPCA encerrar 2025 dentro da meta aumentaram e vê um cenário favorável para que o Copom inicie cortes já na reunião de janeiro.
Mariana Rodrigues, economista da SulAmérica Investimentos, conclui que, em geral, os dados de hoje reforçam a continuidade do processo de desinflação gradual, mas ainda trazem pontos de atenção, especialmente em relação aos altos níveis de inflação de serviços intensivos em mão de obra.



