A produção industrial brasileira enfrenta um momento de estagnação, evidenciado desde setembro de 2022, quando o Banco Central retomou o ciclo de aumento da taxa Selic, atualmente em 15%. Os dados de outubro, publicados pelo IBGE nesta terça-feira (2), refletem essa tendência, com um leve crescimento de 0,1% em comparação a setembro, mas uma queda de 0,5% em relação ao mesmo mês de 2022. As projeções atuais indicam que a produção industrial deve encerrar 2025 com crescimento modesto de até 1%, em contraste com a expansão de 3,1% do ano passado.
Economistas apontam que os efeitos da alta dos juros ainda não se manifestaram completamente, mas um cenário misto nos diversos setores e um mercado de trabalho relativamente positivo têm evitado uma desaceleração mais acentuada. André Valério, economista sênior do Inter, observou que doze dos 25 setores avalizados apresentaram crescimento, com destaque para as indústrias extrativas que registraram um aumento de 3,6% em outubro, interrompendo uma sequência de dois meses de queda.
Entre os destaques, Valério mencionou um aumento de 2% na produção de veículos e de 0,9% na de produtos alimentícios, que foram as principais contribuições para a leve alta observada. A análise da XP ressalta a variação entre setores, com a indústria manufatureira caindo 0,6%, ao passo que a indústria extrativa continua em ascensão.
No tocante às categorias de produção, três das quatro principais mostraram resultados positivos. A produção de bens de capital cresceu 1% pelo segundo mês consecutivo, embora tenha registrado uma queda de quase 3% em relação ao ano anterior. A queda das taxas de juros e a incerteza macroeconômica são mencionadas como fatores limitantes. Em contrapartida, a categoria de Bens de Consumo Duráveis subiu 2,7%, impulsionada pela recuperação nos produtos eletrônicos e veículos automotores.
A produção de Bens de Consumo Semi e Não Duráveis também teve um desempenho positivo, avançando 1%, influenciada pelo aumento contínuo na produção de produtos alimentícios, que acumula crescimento de 5,5% nos últimos meses. Por outro lado, Bens Intermediários apresentaram queda de 0,8%, afetados pela diminuição na produção de derivados de petróleo.
Projeções de Crescimento Moderado
Valério, do Inter, enfatizou que os resultados de outubro reforçam a tendência de desaceleração do setor, que permanece vulnerável a tarifas mais altas impostas pelos EUA, ao contrário de outros produtos que receberam alívio tarifário. Ele destacou que a produção industrial, intensiva em capital, é particularmente suscetível às políticas monetárias. Para o final do ano, projeta-se um crescimento de 0,5%.
A XP também indica uma estabilidade a curto prazo, sugerindo que as condições monetárias adversas e restrições de oferta ainda impactarão o setor. No entanto, a resiliência do mercado de trabalho e potenciais estímulos econômicos em 2024 podem evitar um ciclo recessivo significativo. As previsões são de um crescimento de 1% em 2025 e 1,3% em 2026.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, observou que os dados de outubro confirmam uma perda de ímpeto da indústria, prevendo um crescimento ao redor de 1% para o ano, muito abaixo dos 3,1% de 2024. Para o PIB, as expectativas são de crescimento de 2% em 2025 e 1,7% em 2026, refletindo os desafios impostos pelos juros elevados.
O Goldman Sachs notou que a produção industrial apresenta dificuldades desde meados de 2024, cerca de 1% abaixo dos níveis de junho do mesmo ano. A expectativa é de que o setor encontre suporte em transferências fiscais e aumento do salário real, mas que permanecerá vulnerável a condições financeiras restritivas.
Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, observou que os dados de outubro, juntamente com a queda de setembro, confirmam uma atividade irregular, marcada por recorrentes ciclos de crescimento e queda. A previsão para o final de 2025 é de um crescimento modesto de 0,9%.
O Bradesco corroborou a percepção de desaceleração da atividade econômica, projetando estabilidade do PIB no quarto trimestre após uma alta estimada de 0,3% no terceiro, com uma previsão de crescimento de 2% para o ano de 2025.



