Nos últimos meses, os investimentos em fundos de crédito privado têm experimentado um verdadeiro boom no Brasil.
De acordo com dados da consultoria Quantum para a Inteligência Financeira, nos 12 meses até março, as captações desses investimentos ultrapassaram os resgates em impressionantes R$ 156 bilhões.
Esse panorama contrasta consideravelmente com o início de 2023, quando a recuperação judicial da Americanas (AMER3) e da Light (LIGT3) abalaram esse mercado.
Entretanto, com a estabilização da crise, as taxas de juros ainda elevadas e a rápida disseminação de títulos como CRIs e CRAs, o setor experimentou uma recuperação notável.
O aumento significativo de debêntures tradicionais e o otimismo em relação às debêntures de infraestrutura recentemente regulamentadas também contribuem para esse cenário favorável.
Além disso, as restrições impostas em janeiro para a emissão de títulos incentivados levaram os fundos a buscar oportunidades de investimento, mantendo a demanda aquecida.
De janeiro a março, os R$ 71,9 bilhões emitidos em debêntures representaram quase o dobro do mesmo período em 2023, conforme dados da Anbima.
Rentabilidade Atraente, Mas Cuidado com o Futuro.
A atrativa rentabilidade acima do CDI em muitos desses portfólios tem contribuído para o entusiasmo em torno dos fundos de crédito. No entanto, especialistas alertam que esse cenário possivelmente não se repetirá no médio prazo.
Primeiramente, os ganhos do último ano refletiram, em parte, a recuperação dos preços dos títulos de dívida, que sofreram consideravelmente após o colapso da Americanas. Além disso, as taxas de juros em declínio no Brasil têm levado, de forma geral, a rendimentos menores nos fundos em comparação com um ano atrás.
Outro fator preocupante é a queda dos spreads nos últimos meses. O spread representa a diferença de rentabilidade entre um título privado e um título soberano. Esses spreads extraordinariamente baixos aumentam o risco dos fundos de crédito para os próximos meses.
Guilherme Maranhão, presidente de estruturação de mercado de capitais da Anbima, observa que o spread de crédito privado está extremamente comprimido. Ciro Matuo, estrategista-chefe de renda fixa do Itaú BBA, também destaca a pouca margem para fechamentos adicionais.
Em suma, embora os fundos de crédito tenham oferecido retornos atraentes recentemente, investidores precisam considerar cuidadosamente os riscos associados, especialmente em um ambiente de spreads comprimidos e taxas de juros em declínio.