O cometa 3I/Atlas foi identificado em julho de 2025 e é apenas o terceiro corpo celeste conhecido que vem de fora do nosso Sistema Solar. A chegada do 3I/Atlas apresenta uma oportunidade rara para que cientistas estudem materiais que se formaram em ambientes diferentes daqueles que deram origem ao Sol e aos planetas. Desde sua descoberta, pesquisadores têm observado o cometa em várias faixas de comprimento de onda, com ênfase nos raios-X. Essa radiação é especialmente importante, pois pode revelar como o gás liberado pelo núcleo do cometa interage com o vento solar. No entanto, os cometas interestelares conhecidos anteriormente, como 1I/Oumuamua e 2I/Borisov, não mostraram sinais semelhantes.
Para aproveitar a visibilidade do cometa, a missão japonesa XRISM organizou uma campanha de observação entre 26 e 28 de novembro de 2025. Devido a limitações técnicas, os instrumentos do satélite não podem ser direcionados a menos de 60 graus em relação ao Sol, exigindo um planejamento cuidadoso. Durante 17 horas de observação, o cometa se moveu lentamente pela constelação de Virgem. Para mantê-lo centralizado no campo de visão do telescópio de raios-X Xtend, a equipe precisou ajustar a posição do satélite 14 vezes.
Os primeiros dados dessa investigação mostraram um brilho fraco de raios-X ao redor do cometa, formando uma estrutura que se estende por cerca de 400 mil quilômetros. Esta extensão é maior do que a expectativa para o funcionamento normal do instrumento e pode indicar a presença de uma nuvem difusa de gás emissionando raios-X.
Esse fenômeno é consistente com o comportamento de cometas comuns. Quando o calor do Sol aquece o material gelado, isso causa a evaporação e a formação de uma nuvem de gás, que pode interagir com as partículas do vento solar. Esse processo, conhecido como reação de troca de carga, resulta na emissão de raios-X.
As análises espectrais feitas pelo telescópio Xtend revelaram a presença de elementos como carbono, nitrogênio e oxigênio. Essas emissões não se assemelham ao brilho de fundo normalmente observado no espaço nem à luz refletida pela atmosfera terrestre, o que sugere que a origem das emissões é realmente do cometa.
Os cientistas ainda estão investigando a possibilidade de que parte da estrutura observada possa ser influenciada por artefatos dos instrumentos usados, como a vinhetagem, que pode causar uma redução da intensidade nas bordas da imagem. Uma análise mais aprofundada está sendo realizada para distinguir os sinais reais das interferências instrumentais.
Apesar das incertezas, a identificação de emissões de raios-X do 3I/Atlas representa um avanço significativo, sendo a primeira evidência concreta de que um objeto interestelar ao atravessar o Sistema Solar pode emitir esse tipo de radiação.



