As novas projeções do Banco Central Europeu (BCE), que serão divulgadas na próxima semana, devem trazer uma visão mais otimista sobre o crescimento econômico da zona do euro, conforme indicado pela presidente Christine Lagarde. Durante o evento Financial Times Global Boardroom, Lagarde afirmou que a zona do euro, composta por 20 países, tem demonstrado resiliência superior à esperada frente às tarifas comerciais dos Estados Unidos. Ela enfatizou que, até o momento, a União Europeia não adotou medidas de retaliação e o euro manteve sua força, enquanto o mercado de trabalho se mostrou robusto.
Lagarde declarou: “Nos últimos exercícios de projeção, revisamos nossas previsões para cima”, e acrescentou que há oportunidades de nova revisão positiva em dezembro.
No âmbito financeiro, os títulos da zona do euro experimentaram uma queda que resultou no aumento dos rendimentos dos títulos franceses de 10 anos, atingindo a marca de 3,60%, um pico não visto em nove meses, embora os valores tenham se ajustado rapidamente. Atualmente, os mercados financeiros atribuem uma probabilidade de 40% a um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de juros no próximo ano, um aumento em relação a 30% há apenas alguns dias.
As autoridades monetárias estão cada vez mais inclinadas a manter os custos de empréstimos constantes no curto prazo, em parte devido à robustez da economia. O Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro registrou um crescimento de 0,3% no terceiro trimestre, superando as estimativas iniciais.
Gediminas Simkus, líder do banco central da Lituânia, destacou que não vê necessidade de cortes adicionais nas taxas, indicando uma mudança em relação a declarações anteriores e sugerindo uma maior confiança de que a inflação não deve cair drasticamente, além da meta do BCE. Isabel Schnabel, membro do Conselho Executivo, também expressou satisfação em relação às expectativas dos investidores de que o próximo movimento será um aumento nas taxas.
Esses comentários dos dirigentes do BCE têm levado os investidores a ajustar suas previsões, abandonando a expectativa por cortes nas taxas para o próximo ano. A tendência é visível globalmente, com os rendimentos dos títulos atingindo níveis não vistos desde 2009, à medida que cresce a expectativa de que ciclos de cortes de juros em várias economias, incluindo dos EUA e da Austrália, podem estar se aproximando do fim.
Lagarde destacou que com uma inflação próxima de 2% e projeções a médio prazo alinhadas, a economia parece estar “bastante próxima do potencial”. Além disso, ela respondeu a uma solicitação do presidente francês Emmanuel Macron sobre a necessidade de uma nova abordagem para a política monetária da zona do euro, que considere não apenas a inflação, mas também o crescimento econômico e o emprego. Diferente dos Estados Unidos, o principal objetivo do BCE é manter a estabilidade de preços.
Lagarde indicou que essa discussão é válida e interessante, sugerindo que pode haver espaço para mudanças no tratado, mas reiterou que a estrutura atual já permite que o BCE leve em conta temas como crescimento, emprego, inovação e mudanças climáticas. “O dever de um banco central e de seus líderes é focar na missão definida pelos governos na criação da ordem monetária em sua zona”, afirmou.
A presidente do BCE também avaliou positivamente as iniciativas recentes da União Europeia para utilizar ativos russos congelados como fonte de financiamento para a defesa da Ucrânia. Segundo ela, o plano em discussão está em conformidade com os princípios do direito internacional e, se bem explicado, poderá tranquilizar investidores na Europa sobre a legitimidade de tal prática, que ela descreveu como “muito, muito excepcional”.



